Os talibãs realizaram a sua primeira conferência de imprensa em Cabul desde que assumiram controlo do Afeganistão.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do talibãs, começou a conferência por "felicitar" todo o povo afegão por "pôr fim à ocupação americana". "Queremos garantir aos nossos países vizinhos que a nossa terra não será mal utilizada contra eles. A comunidade internacional também deve reconhecer o nosso Governo", disse Mujahid. "Este é um momento de orgulho para toda a nação".
"Queremos garantir a segurança das embaixadas e organizações internacionais em Cabul. O nosso plano era parar às portas de Cabul depois de capturar o resto das áreas para que a transição fosse pacífica, mas, infelizmente, o Governo anterior foi incompetente. Não conseguiram fornecer segurança. Forneceremos segurança a todas as organizações estrangeiras agora. Não procuramos nenhum inimigo, seja dentro ou fora do Afeganistão. Perdoamos todos aqueles que lutaram contra nós. As animosidades chegaram ao fim".
"O Afeganistão está agora emancipado e os talibãs não procuram vingança", acrescentou. "Gostaria de garantir à comunidade internacional que ninguém será prejudicado. Não queremos problemas com a comunidade internacional".
Questionado sobre empreiteiros e tradutores que trabalharam com potências estrangeiras, Mujahid respondeu: "Os jovens que cresceram aqui, não queremos que partam. São o nosso património. Ninguém vai bater à sua porta e perguntar para quem estão a trabalhar. Estarão seguros. Ninguém será interrogado ou perseguido".
Além disso, adiantou o porta-voz, o Afeganistão "não irá abrigar no país ninguém que queira atacar outras nações" numa referência ao facto de o país ter sido considerado um santuário de grupos terroristas até 2001, lembrando que essa foi uma exigência do acordo firmado com a administração Trump, em 2020, e que levou à retirada dos efetivos militares dos Estados Unidos e da NATO.
Em relação aos direitos das mulheres, os talibãs garantiram estarem "comprometidos com os direitos das mulheres sob o sistema da sharia (lei islâmica)". "Vamos permitir que as mulheres trabalhem e estudem dentro das nossas estruturas. As mulheres serão muito ativas na nossa sociedade".
"Temos o direito de agir de acordo com os nossos princípios religiosos. Outros países têm abordagens, regras e regulamentos diferentes, os afegãos têm o direito de ter as suas próprias regras e regulamentos de acordo com os nossos valores", continuou o porta-voz.
Este é o tema que constitui uma das maiores preocupações da comunidade internacional, já que, quando ocuparam o poder, entre 1996 e 2001, os talibãs restringiram severamente a vida das mulheres e meninas, proibindo-as de estudar, trabalhar, conduzir ou andar na rua desacompanhadas.
Sobre os meios de comunicação privados, os talibãs asseguraram que poderão continuar a ser "livres e independentes dentro das estruturas culturais". "Os valores islâmicos devem ser levados em consideração no desenvolvimento dos programas. A imparcialidade dos meios de comunicação é muito importante, podem criticar o nosso trabalho para que possamos melhorar. Mas não devem trabalhar para nós".
"Depois de o Governo ser formado, decidiremos que leis serão apresentadas à nação", rematou Mujahid. "Depois da formação de um Governo, tudo ficará mais claro".
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