Quem passa na Calçada da Ajuda, em Lisboa, depara-se com uma situação insólita. As obras ali realizadas deixaram cinco casas com a porta a mais de um metro de altura do chão da rua e, sem degraus, é impossível aceder pela entrada principal. Os militares da GNR, quem as utiliza, têm agora de entrar pelas traseiras.
A Calçada da Ajuda esteve fechada durante um ano e meio para obras. Estas ainda não estão concluídas, mas havia urgência em abrir aquela rua. "Era muito importante conseguirmos abri-la porque o seu fecho causava transtornos na circulação de automóveis e de pessoas, ficava muito estrangulado o acesso à parte alta da freguesia. Como as casas não são para uso diário, os responsáveis pela obra decidiram que não era prioritário avançar com aquela parte", explica o presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Marques.
Mas houve mais motivos para apressar a empreitada. Há cerca de dois meses, o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Câmara de Lisboa visitaram a nova ala do Palácio Nacional da Ajuda, concluída depois de ter ficado inacabada há mais de dois séculos. Na altura, a Calçada da Ajuda ainda estava a ser intervencionada, mas, em dia de inauguração, "compôs-se a rua".
"Como a abertura contou com a presença de várias individualidades importantes, tiveram vergonha de deixar aquilo mal acabado e decidiram dar uma pintura nos rodapés, mas a obra não estava nem está concluída. Se deixassem com aparência de obra ou uma parede por pintar, toda a gente percebia que ainda se tratava de uma empreitada em curso", explica ainda Jorge Marques.
As cinco casas fazem parte da Unidade de Segurança e Honras de Estado e são usadas por militares da GNR. Duas estão a ser utilizadas neste momento, mas a GNR garante que o congestionamento não está a ter impacto porque conseguem entrar nas habitações pelas traseiras.
"As casas são usadas maioritariamente para trocar de roupa ou para os militares poderem pernoitar lá aquando da realização de um curso, e realizam-se vários cursos, naquelas instalações da GNR. Não são habitacionais, ninguém vive lá permanentemente", esclarece a GNR.
A Direção Geral do Património Cultural (DGPC) confirma que "a intervenção não está concluída" e diz que vai emendar o erro. "Falta corrigir as soleiras das portas e fazer pequenas intervenções no interior das casas para repor cotas de acesso. Estes trabalhos não têm repercussão física e formal na Calçada da Ajuda, a não ser na dimensão dos vãos, e vão ser executados em breve, sem colocar em causa o trânsito na Calçada da Ajuda", explica.
As cinco casas são propriedade do Estado, mas estão sob tutela da Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), "entidade à qual foi solicitada autorização para se proceder à alteração dos vãos resultantes das novas cotas do arruamento, após a alteração do trainel da Calçada", esclarece ainda. Já a conclusão do projeto de construção do Museu do Tesouro Real na nova ala poente do Palácio Nacional da Ajuda está prevista para novembro.
Ainda segundo a DGPC "o encerramento temporário da Calçada da Ajuda estava a causar grandes constrangimentos nesta zona da cidade" e a sua reabertura "foi indispensável para repor a circulação pedonal e viária (incluindo elétrico) através desta via essencial da freguesia e da cidade, sendo aguardada ansiosamente por grande parte da população local".
A requalificação da Calçada da Ajuda custou mais de 30 milhões de euros.
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