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segunda-feira, 26 de abril de 2021

35 ANOS DE CHERNOBYL. O TESTE DE 1 MINUTO QUE SE TORNOU NO MAIOR ACIDENTE DA HISTÓRIA


O acidente aconteceu durante a realização de um teste de segurança ao reator nuclear da unidade 4 da central de energia de Chernobyl. Duas explosões deixaram o núcleo a céu aberto, em chamas e a emitir radioatividade durante dias. Recorde o que aconteceu a 26 de abril de 1986.

Há 35 anos, duas explosões destruíram o núcleo da unidade 4 da central de energia nuclear de Chernobyl, situada perto da fronteira norte da Ucrânia. O acidente aconteceu à 01:24 do dia 26 de abril de 1986. A combinação entre falhas no design do núcleo, uma política de segurança deficitária e a falta de conhecimento sobre o reator culminaram naquele que ainda hoje é considerado o maior acidente da história da energia nuclear.

Para contar a história desde o início, temos de recuar à madrugada do dia anterior. Na agenda do dia 25 de abril de 1986 estava marcada uma paragem para manutenção da unidade 4 da central de energia nuclear de Chernobyl. Ao mesmo tempo, e aproveitando a diminuição da potência do núcleo que iria acontecer nesse dia, estava também prevista a realização de um teste de segurança ao sistema de refrigeração de emergência do reator.

Sabe-se agora que o modelo do reator nuclear utilizado na central de Chernobyl, os reatores RBMK, apresentava um conjunto limitações no seu design. Na altura já tinham sido identificadas algumas, como é o caso de uma falha no funcionamento do sistema de refrigeração de emergência: as bombas que expeliam água para o núcleo eram alimentadas com a energia proveniente de geradores a combustível, que demoravam cerca de 1 minuto a atingir a potência necessária para que estas começassem a trabalhar. Ou seja, durante esse minuto, a contar da desativação do processo, o núcleo continuava a emitir calor.

Para preencher essa lacuna de tempo, os especialistas da época teorizaram que a eletricidade produzida pelo movimento da turbina até à paragem total poderia substituir os geradores durante o período em falta. Embora houvesse fundamento teórico, a prática não apresentava bons resultados: foram realizados três testes anteriormente e todos falharam. O teste agendado para o dia do acidente seria o quarto.

O exercício de segurança estava marcado para as 14:15 e teria acontecido durante o turno do dia, onde os operadores tinham sido instruídos e preparados para o que se iria passar. No entanto, aconteceu um imprevisto. A central elétrica de Kiev, capital da Ucrânia, pediu a Chernobyl que adiasse a paragem do reator, porque tinha havido um problema numa outra central elétrica e era preciso garantir eletricidade às populações no início da noite. Este adiamento é crucial na história de Chernobyl.

A permissão da central elétrica de Kiev para prosseguir só chegou às 23:04 e o teste só foi iniciado à 1:23, precisamente 1 minuto antes das explosões. É importante lembrar que, durante todo o dia, a unidade 4 da central elétrica esteve a funcionar com o reator a 50% da sua capacidade.


Na hora de realizar o teste, estava a operar o turno da noite, que não tinha recebido qualquer formação para o que iria acontecer. Na sala de operações estavam Anatoly Dyatlov, engenheiro-chefe da central de Chernobyl, Aleksandr Akimov, chefe do turno da noite, e Leonid Toptunov, operador responsável pelo reator. Akimov e Toptunov morreram alguns dias depois do acidente.

A origem das explosões tem vindo a ser analisada ao longo dos anos e, ainda hoje, não se sabe com certeza o que causou a destruição do núcleo da central de Chernobyl. O relatório INSAG-7 (sigla para International Nuclear Safety Advisor Group), considera que o acidente ocorreu devido à conjugação de “características físicas específicas do reator; recursos específicos do design dos elementos do controlo do reator; e ao facto do reator ter sido levado para um estado não especificado pelos procedimentos ou investigado por uma organização independente de segurança”.

As conclusões deste relatório são aceites pelas principais organizações mundiais de energia nuclear, no entanto Dylatov continua a contestá-las e a considerá-las erróneas. O engenheiro-chefe chegou a ser julgado e condenado a uma pena de prisão pelo acidente de Chernobyl.


Para além de Akimov e Toptunov, morreram mais 28 pessoas em consequência direta do acidente, 22 trabalhadores da central e seis bombeiros. A exposição a elevados níveis de radioatividade foi a principal causa, levando as vítimas a desenvolver síndrome de aguda da radiação nos dias seguintes ao acidente. O número vítimas indiretas é difícil de calcular, mas as projeções estimam que o valor poderá estar na casa dos quatro mil mortos.

OPERAÇÃO DE LIMPEZA

Só passados dois dias das explosões é que o mundo teve conhecimento do acidente de Chernobyl. Foi identificada na central nuclear de Forsmark, na Suécia, a 1.000 quilómetros de distância, uma elevada concentração de radioatividade, o que levou o Governo sueco a questionar a URSS se tinha acontecido algum acidente em Chernobyl. Inicialmente a URSS negou, mas acabou anunciar publicamente o acidente a 28 de abril.


Colocadas as bombas de emergência de parte, foi desenvolvido um plano para despejar componentes absorventes de neutrões diretamente na cratera em chamas. Estes componentes iriam servir como moderadores da reação de fissão nuclear, ou seja iria diminuir a reação em cadeia, o que ajudaria a diminuir também a temperatura do núcleo.

A elevada emissão de elementos radioativos impedia que os helicópteros permanecessem durante muito tempo por cima do núcleo e, por isso, os componentes absorventes eram lançados com o helicóptero em andamento. Este processo começou no dia 28 de abril e foram depositadas cerca de 5.000 toneladas de material que incluía carboneto de boro, chumbo, areia, argila e dolomite. Hoje sabe-se que a grande parte dos componentes despejados falhou o alvo.

CONSTRUÇÃO DOS TÚNEIS E DO SARCÓFAGO

O incêndio do núcleo do reator esteve ativo durante nove dias, tendo sido controlado a 4 de maio de 1986. Mesmo sem as chamas, o núcleo do reator continuava muito quente e foi colocada em causa a capacidade da estrutura que existia por baixo do reator. O projeto foi iniciado dois dias depois e tinha como objetivo evitar que as altas temperaturas derretessem a estrutura previamente existente e que esta se tornasse permeável à radioatividade, correndo o risco de se espalhar pelo solo e contaminar lençóis de água.

Mais de 400 trabalhadores escavaram um túnel que passava por baixo da unidade 3 e conseguiram colocar uma placa de betão por baixo do núcleo destruído. Para além de reforçar a estrutura, a placa ajudou no arrefecimento do núcleo. Este projeto demorou 15 dias a estar concluído.


Com mais uma questão resolvida, chegou a hora de pensar como se poderia evitar a propagação dos componentes radioativos que continuavam a ser libertados do núcleo. A ação do vento, das aves ou da chuva era uma preocupação pois poderia arrastar os isótopos radioativos e espalhar ainda mais a radioatividade. Para isso, foi desenhada uma estrutura que envolve a área destruída da antiga unidade 4. Este projeto foi chamado de sarcófago e a sua construção foi realizada entre junho e novembro.

Um dos desafios identificado nesta fase do processo foi a existência de elementos radioativos nos telhados das três unidades da central. As autoridades soviéticas tentaram utilizar robots para remover estes fragmentos, mas a radioatividade era de tal forma elevada que os sistemas elétricos não aguentavam.

Foi necessário recorrer à mão de obra humana: praticamente todo o material foi removido por militares que foram expostos a elevados níveis de radiação. Para evitar a exposição a doses letais de radiação, cada um dos militares apenas poderia estar entre 40 e 90 segundos nos telhados. Mesmo assim, alguns dos homens que participaram nesta fase do processo de limpeza tiveram de fazer seis viagens aos telhados, quando apenas uma já representava um perigoso considerável para a saúde.

A EVACUAÇÃO DE PRIPYAT E A ÁREA DE SEGURANÇA


Mais de 36 horas depois do acidente, foi decretada, por parte das autoridades da URSS, a evacuação da cidade de Pripyat, a localidade mais próxima da central nuclear que tinha sido criada para alojar os trabalhadores e as suas famílias. Esta medida foi apresentada aos moradores como sendo temporária e a duração prevista era de apenas três dias. Os habitantes de Pripyat nunca mais regressaram às suas casas.


Pelas 14:00 do dia 27 de abril, um autocarro chegava à cidade pronto para iniciar o transporte dos cerca de 53 mil habitantes. As autoridades instruíram os habitantes a levar apenas os bens pessoais essenciais e deixar os restantes pertences. A cidade tornou-se fantasma e os objetos pessoais das famílias ainda hoje permanecem onde foram deixados.

A chamada zona de exclusão da central nuclear de Chernobyl foi delineada no dia a seguir, e tinha inicialmente um raio de 10 quilómetros à volta da unidade. Dez dias depois do acidente, a extensão foi aumentada para 30 quilómetros. Estima-se que, inicialmente, 115 mil pessoas tenham sido forçadas a abandonar as suas casas devido ao acidente, um número que aumentou para 220 mil depois de 1986. Pouco mais de mil pessoas decidiram regressar, posteriormente, às suas antigas casas, localizadas dentro da área de exclusão, desobedecendo às ordens das autoridades.

As unidades 1, 2 e 3 foram temporariamente interrompidas para as operações de limpeza do acidente de Chernobyl. No entanto, voltaram à atividade pouco tempo depois e produziram energia elétrica durante vários anos. A unidade 2 foi encerrada em outubro de 1991 na sequência de um incêndio, a unidade 1 foi desativada em novembro de 1996 e o reator da unidade 3 foi encerrado em dezembro de 2000.

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