O bom gigante, Alfredo Quintana, não resistiu à paragem cardiorrespiratória que sofreu na passada segunda-feira. O guarda-redes luso-cubano faleceu, esta sexta-feira, no Hospital de S. João, no Porto. Tinha 32 anos.
Deixa mulher portuguesa, Raquel Ferreira, e uma filha de quase dois anos, a pequena Alicia, que eram a luz dos seus olhos. Eram também o principal motivo do sorriso aberto que sempre o caracterizou.
"Desde que fui pai, a minha vida fora do andebol mudou toda. É uma sensação indescritível. Gosto de brincar com ela, de andar com ela às cavalitas pela casa toda. Na próxima competição em que esteja muito tempo longe de casa, a minha mulher e a minha filha têm de ir lá. Nem que seja por uns dias", disse há sensivelmente um ano, em entrevista ao JN. Sintomático.
Quintana deixa também uma legião de amigos e fãs. Fãs do homem e do atleta. Foi a brilhar nas balizas de andebol, no F. C. Porto e na seleção nacional, que ganhou notoriedade neste país adotivo e permitiu que muitos conhecessem o extraordinário ser humano por detrás do equipamento do não menos brilhante guarda-redes.
Pela porta do F. C. Porto, levou o andebol português para outra dimensão. Chegou ao país em 2010, para representar os azuis e brancos, e em 2014 naturalizou-se português, passando a integrar também as opções da seleção lusa, que ajudou a atingir os melhores resultados de sempre em campeonatos Europeu (6.º lugar) e Mundial (10.º).
Ao serviço dos dragões enriqueceu o currículo com as conquistas de seis campeonatos, uma Taça de Portugal e duas Supertaças nacionais. Também na Invicta enriqueceu em termos familiares e culturais. Estudou na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, habitava Gaia e, apesar de tudo, ainda não se tinha adaptado totalmente ao país.
"Costumo dizer que, na minha vida, tive sempre de me adaptar. Quando vim para Portugal, custou-me muito, mas não a jogar andebol. Nisso, eu sabia que, mais tarde ou mais cedo, com trabalho iria ter sucesso. Nunca entrei em paranoias, de que tinha de fazer 20 defesas no primeiro dia, porque a vida não é assim. Só tinha de trabalhar e esperar. O que me custou foi o frio e o idioma. Já estou habituado, mas ainda me custa", afirmou, também ao JN.
Quintana nasceu em Havana, Cuba, a 30 de março de 1988. Em idade escolar, no país natal, sentiu a obrigação de praticar uma atividade desportiva e escolheu o... basquetebol, tal como o irmão gémeo. A alternativa era passar tardes inteiras a estudar, algo que na altura não gostava. Depois, ainda praticou basebol, mas foi, por fim, no andebol que encontrou o porto de abrigo.
"Jogava a lateral. Mas um dia tivemos de ir a uma competição e não tínhamos guarda-redes. Eu já era alto e disse ao treinador que podia ir para a baliza. Nunca mais saí. Tinha oito ou nove anos", contou ainda ao nosso jornal. O resto é história.
Diz a sabedoria popular que "nós só morremos quando somos simplesmente esquecidos". Portanto, Alfredo Quintana apenas partiu nesta sexta-feira, dia 26 de fevereiro de 2021, pois há muito atingiu a imortalidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário