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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

QUEM É O MÉDICO QUE NOS RECOMENDA DAR COMPOTA NO NATAL?


Era visto como o sucessor natural de Graça Freitas, até as sugestões insólitas para um Natal em pandemia fazerem dele protagonista de memes nas redes sociais. Mas afinal quem é Rui Portugal?

Quando foi preciso substituir Francisco George na Direção-Geral de Saúde (DGS), foi aberto um concurso. Só três nomes chegaram à fase final: Graça Freitas, Raquel Duarte Bessa e Rui Portugal. O então ministro Adalberto Campos Fernandes teve de fazer uma escolha e Portugal perdeu o lugar. Na altura, estava longe de imaginar que a pandemia que colocou a DGS no centro das atenções dos portugueses acabaria também por deixar Graça Freitas doente, obrigando-o a assumir o comando e uma ribalta que o tornaria conhecido do público de uma forma que certamente não esperaria.

O tom que usou para fazer recomendações para um Natal em pandemia e as sugestões insólitas que escolheu dar como exemplo fizeram de Rui Portugal material de memes que circulam nas últimas horas por todas as redes sociais.

Em conferência de imprensa, o substituto de Graça Freitas sugeriu aos portugueses que assinalassem o Natal "por meios digitais, por computador, por telefonemas, por visitas rápidas no quintal de uns e de outros, no patamar das escadas do prédio de uns e de outros" e fizessem "uma troca simbólica de uma compota que um fez ou de algo que seja aprazível, um contacto humano, um contacto de proximidade, mas com distanciamento físico".



Se já era insólito que uma autoridade de saúde sugerisse o tipo de presentes a oferecer, a internet não perdoou a forma como Rui Portugal recomendou mudar a tradicional ceia natalícia para outra refeição.



O pequeno-almoço de Natal sem "substâncias que possam trazer mais afetividades"

"Não é obrigatório que o Natal se comemore neste país na ceia de Natal. Pode-se comemorar por um momento de exceção num almoço de Natal na véspera do dia de Natal. Não há nada que o impeça. Vou-lhe dar um exemplo. Em minha casa há uma pessoa que comemora o seu aniversário precisamente nesta época, num destes dias. E a comemoração desse aniversário é o pequeno-almoço", disse, aconselhando "nestes convívios, uma utilização moderada, racional de tudo o que possam ser substâncias que possam trazer maiores afetividades".


Aos 57 anos, nunca antes este especialista em Saúde Pública tinha chegado ao grau de reconhecimento que atingiu depois desta conferência de imprensa. E não pelos melhores motivos. "Cometeu suicídio em direto", comenta um ex-governante da área da Saúde, que acha que seria avisado Portugal sair de antena nas próximas semanas, "a ver se os portugueses se esquecem".

Quem o conhece bem garante, contudo, que o estilo de intervenção de Rui Portugal "é desbocado" e não se surpreendeu com a intervenção que foi considerada desastrada. "É uma pessoa inteligente, mas é de uma grande ingenuidade. Aquilo é ele na sua espontaneidade", nota a mesma fonte, preocupado com a forma como a DGS se tornou "alvo de chacota".


O monárquico religioso na calha para suceder a Graça Freitas 

Monárquico, católico religioso, homem de causas, conservador nos costumes, Rui Portugal é muitas vezes apontado como sendo ideologicamente próximo do CDS. E há até quem o descreva como "um tio", para dar nota do meio social em que se move. Mas ao longo da sua carreira foi trabalhando de perto e sem atritos com pessoas que lhe estavam muito à esquerda. "É uma pessoa muito afável no trato", nota um antigo colega, que garante que as preferências políticas não ditam a forma como se relaciona com quem com ele trabalha.

A relação com Graça Freitas é que, segundo fontes do setor, se faz de alguma desconfiança. "Não é uma relação muito confortável", assegura-se. O motivo? Rui Portugal é visto na área como alguém que poderia suceder a Freitas mais cedo do que tarde, uma vez que o desgaste provocado pela exposição constante durante a pandemia de covid-19 faz antever uma saída antecipada da atual diretora-geral de Saúde.

Descrito como "divertido, com sentido de humor", Rui Portugal está habituado a falar em público, mas entre pares. "Sempre foi um tipo mais de bastidores", nota um médico de Saúde Pública, que já trabalhou com Portugal e frisa a experiência que este teve como coordenador de internato de Saúde Pública e o seu percurso académico para deixar claro que é uma pessoa tecnicamente muito bem preparada.

De resto, Rui Portugal apostou sempre na sua formação e, durante cinco anos, mudou-se com a mulher – que é médica radiologista – e os quatro filhos para os Estados Unidos para estudar no Departamento de Saúde Pública na Universidade da Carolina do Norte.

"É uma pessoa que goza da melhor reputação do ponto de vista médico e humano. Sempre se tem falado nele como sucessor natural de Graça Freitas", conta uma fonte ligada ao setor, explicando que até agora estavam "depositadas nele muitas esperanças".

A forma como comunicou as recomendações para o Natal pode, porém, ter deitado a perder essa hipótese. "Claramente há aqui um problema. As estruturas técnicas precisam de ser treinadas. Não percebem o público para que se dirigem e, neste caso, a mensagem ficou desvirtuada", analisa a mesma fonte, concluindo que "ou a competência técnica não é suficiente ou então não cabe às estruturas técnicas terem este protagonismo".

Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), diz que Rui Portugal é "muito educado, mas pouco experiente politicamente, é um técnico". E, frisando falar "a título pessoal" e como amigo de Portugal, recorda que o atual subdiretor da DGS é "agente graduado sénior da saúde pública por concurso".

"Chegou sempre a todos os casos por concurso", sublinha Roque da Cunha, recordando a formação e a experiência de Rui Portugal como administrador hospitalar no Hospital Pulido Valente, onde esteve entre 1995 e 1996.

O conselho para ir à missa e a dificuldade de não dizer ámen

A conferência de imprensa sobre o Natal deu nas vistas, mas recuando a 28 de maio de 2020, é possível encontrar, numa entrevista à Agência Ecclesia sobre a retoma das celebrações religiosas, um estilo parecido de comunicar.

Na altura, Portugal regozijava-se com o facto de voltar a ser possível realizar missas, considerando que é preciso "tratar também da nossa espiritualidade e recompô-la".



"O primeiro mandamento é o bom senso", ditava então, defendendo que talvez o medo fosse pior do que o vírus. "Temos a epidemia do SARS-CoV-2 e a epidemia do medo. E a epidemia do medo é provavelmente maior", comentava, enquanto frisava que a covid-19 "felizmente é uma doença com mortalidade muito baixa comparativamente com a SARS e a MERS".

Também nessa ocasião Rui Portugal decidiu dar exemplos práticos e sugestões concretas, como fazer as celebrações em templos com as portas abertas sempre que possível. "Esperemos que elas estejam abertas, mesmo com as senhoras a queixarem-se de correntes de ar. Vão ter de aguentar a corrente de ar", brincava.

Quando explicava a problemática de dar a comunhão sem potenciar o contágio com covid-19, lembrava que, por causa das regras sanitárias "o ámen não se diz" quando se recebe a hóstia. "Tenho muitas dúvidas de que consigamos não dizer o ámen depois de tantos anos de prática", desabafava.

O entrevistador da Ecclesia quis saber se ir à missa é seguro? E a resposta, mesmo com todas as cautelas sanitárias, foi bem reveladora da condição de crente do subdiretor da DGS. "É aconselhável e certamente que é seguro".

Um especialista na área que não quis ser identificado diz que "usar o story telling para fazer passar uma mensagem" é uma das técnicas habituais em Saúde Pública e que terá sido isso que Rui Portugal tentou fazer na já famosa conferência de imprensa sobre o Natal. "Dar exemplos concretos ajuda as pessoas a perceber", justifica, lamentando que se dê "mais valor à forma do que o conteúdo" e lembrando "o risco" de quem dá a cara. "Faz parte de quem se expõe". 

O bom trabalho feito em Lisboa

Antes de chegar à ribalta, Rui Portugal desempenhou nos bastidores um papel que Duarte Cordeiro, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares que coordena o combate à covid-19 na região de Lisboa, classifica como "muito útil".

"Rui Portugal foi muito importante para controlar as coisas aqui em Lisboa", afirma o governante, lembrando como em junho e julho a situação epidémica na Grande Lisboa dava sinais de alerta e obrigou a um reforço da prevenção e a um afinar na estratégia para lidar com a pandemia.

Se "hoje estamos mais preparados", como defende Cordeiro, isso também se deve ao trabalho de Rui Portugal como coordenador do gabinete de crise que geriu a situação. 

Nessa altura, o ex-presidente da Autoridade Regional de Saúde (ARS) de Lisboa estava nos briefings semanais com o primeiro-ministro, ajudava a articular a comunicação da Saúde Pública com os autarcas, sensibilizava os médicos para a partilha de informação com as autarquias para mapear o avanço do vírus e organizava ações de sensibilização.

"Tenho uma opinião muito positiva do trabalho dele", vinca Duarte Cordeiro que o vê como uma "escolha natural para subdiretor" da DGS, lembrando que a par do currículo académico – é professor na Faculdade de Medicina – é "um dos maiores especialistas em saúde pública aqui na região de Lisboa" e tem experiência como dirigente.

Sobre a polémica, Duarte Cordeiro prefere não fazer comentários, lembrando só que muito do que é hoje o plano de combate à pandemia no país começou por se fazer no gabinete de crise que geriu em Lisboa. 

Contactado, Rui Portugal não esteve disponível para fazer qualquer comentário.

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