País perdeu 134 mil ativos em menos de uma década. Perspetivas de crescimento são pobres. Em 2050, portugueses deviam trabalhar mais oito anos além dos 64 para sistema funcionar.
Portugal é dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) onde os trabalhadores terão de trabalhar mais tempo além dos 64 ou 65 anos de modo a manter o peso da população em idade produtiva face à população total.
Segundo um estudo da OCDE, dentro de 30 anos, se nada mudar na estrutura produtiva e demográfica, os portugueses terão de trabalhar, em média, mais 8 anos além daquela idade de referência, o que significa que o peso da população capaz de trabalhar só se mantém estável, nos níveis atuais, se essas pessoas em condições ativas se reformarem aos 72 anos ou mais tarde.
Pobreza agrava situação
O caso de Portugal é especialmente grave, pois a OCDE assume nos seus cálculos que a idade de reforma até é das que mais têm subido no grupo das mais de 40 economias estudadas. Portugal conseguiu prolongar o tempo de vida profissional ou produtiva em 5 anos mas, mesmo assim, não chega para estabilizar o sistema nas próximas décadas.
Além do problema do envelhecimento, a organização diz que o PIB per capita português deve cair 4,9% até 2030, mas se alargarmos o horizonte até 2040 ou 2050, o empobrecimento é ainda mais grave. Num cenário base, o PIB por habitante cai 11% até 2040 ou 15% até 2050.
Para muitos países (como Espanha e Coreia), a pressão para trabalhar mais anos na chamada terceira idade é grande porque a "fertilidade é baixa", o envelhecimento é um fenómeno cada vez mais forte (associado a maior esperança de vida) e as perspetivas de crescimento da economia a prazo são francamente pobres aos olhos destes economistas.
A OCDE explica no estudo "Promover uma força de trabalho inclusiva em termos de idade" que "o limite máximo para a idade da vida profissional (65 anos por referência) terá que aumentar substancialmente para evitar o declínio no tamanho relativo da força de trabalho".
Solução? "Um prolongamento no que se define como a faixa etária de trabalhadores principais em cerca de 6 anos até 2050". Isto é a média do conjunto da OCDE. No caso de Portugal, como referido, os anos de trabalho a mais (além dos 64 anos) são 8. No caso de Espanha, sobe para 10.
A organização admite que os governos não têm estado impávidos a olhar para o inverno demográfico. "O prolongamento da vida laboral já está a acontecer. As idades efetivas de saída do mercado de trabalho na OCDE subiram cerca de 2 anos e meio no caso dos homens e 3 anos no caso das mulheres entre 2000 e 2019". Em Portugal, a vida profissional foi prolongada "em mais de 5 anos" nos 19 anos em análise.
Menos 134 mil ativos
Portugal perdeu 134 mil pessoas produtivas (ativos) desde 2011. Ou seja, nunca recuperou do embate da crise anterior. Em 2020, apareceu a pandemia e aumentou mais a inatividade.
Reforma oficial
A idade normal de reforma para não haver penalizações subiu para 66 anos e seis meses em 2021, mais um mês do que este ano. E, em 2022, aumenta mais um mês, para 66 anos e sete meses.
Pensões em risco
"Devido à baixa fertilidade e ao envelhecimento", o grupo dos que têm 65 anos ou mais vai ganhar cada vez mais peso, "pressionando os sistemas de pensões e níveis de vida".
OCDE pede incentivos
"Vão ser necessários grandes esforços nas políticas públicas e privadas de modo a incentivar trabalhadores a estenderem a sua vida profissional enquanto podem, querem e precisam".
Investir na saúde
A OCDE defende mais "investimentos na segurança financeira e na saúde dos trabalhadores ao longo da vida" e mais qualificações para "eles serem resilientes até idades avançadas".
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