Cabe agora a Marcelo Rebelo de Sousa decidir sobre a dissolução do Parlamento e a marcação de eleições.
A Assembleia da República chumbou esta quarta-feira, na generalidade, a proposta de Orçamento do Estado para 2022, com os votos contra do BE, PCP, PEV, PSD, CDS, IL e Chega, com a abstenção do PAN e das deputadas não-inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues e com o voto favorável do PS.
Cabe agora a Marcelo Rebelo de Sousa decidir sobre a dissolução do Parlamento e a marcação de novas eleições legislativas.
O primeiro-ministro, António Costa, afirmou, na terça-feira, que não se demite. O primeiro-ministro garantiu que, mesmo com o Orçamento do Estado chumbado, continuará chefe de Governo.
Em 47 anos de democracia, nunca um Orçamento do Estado tinha sido chumbado no Parlamento.
O MOMENTO DA VOTAÇÃO E CHUMBO DO ORÇAMENTO
No total, 108 deputados votaram a favor, cinco abstiveram-se e 117 votaram contra.
"O resultado foi a rejeição desta proposta do Governo", afirmou o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, no final da votação.
O QUE SE SEGUE: DISSOLUÇÃO DO PARLAMENTO?
Com o chumbo do Orçamento, o Presidente da República deverá prosseguir para a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições legislativas antecipadas, como já tinha anunciado. Em teoria, o chefe de Estado poderia pedir ao Governo para elaborar outra proposta orçamental. Poderia também demitir o executivo e tentar uma outra solução governativa, fosse do mesmo partido, de outros ou até de coligação.
Mesmo com a dissolução do Parlamento, o Governo mantém os seus poderes. Apesar disso, o executivo terá de governar por duodécimos, uma vez que não tem orçamento aprovado.
O Presidente da República, que na noite desta quarta-feira vai reunir-se com o Presidente da Assembleia da República e com o primeiro, vai receber no próximo sábado, 30 de outubro, os partidos políticos com representação parlamentar. Marcelo Rebelo de Sousa vai ainda convocar uma reunião especial do Conselho de Estado para o dia 3 de novembro, pode ler-se no comunicado publicado na página da Presidência.
O Presidente da República receberá ainda os parceiros sociais na sexta-feira, dia 29 de outubro, como já tinha sido anunciado.
FERRO RODRIGUES INFORMA PARTIDOS DE CONFERÊNCIA DE LÍDERES NA QUINTA-FEIRA
O presidente da Assembleia da República informou, esta quarta-feira, após o chumbo do Orçamento do Estado, que haverá uma conferência de líderes na quinta-feira, às 10:30 horas, para reorganizar os trabalhos parlamentares.
"Informo todos os grupos parlamentares que amanhã [quinta-feira], às 10:30 horas, reunirá a conferência de líderes para procedermos de acordo com este resultado e programarmos os trabalhos da Assembleia da República", informou Ferro Rodrigues.
"O GOVERNO SAI DESTA VOTAÇÃO DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA E CABEÇA ERGUIDA"
António Costa garante que sai da votação de “consciência tranquila e cabeça erguida”, deixando agora nas mãos de Marcelo Rebelo de Sousa a decisão sobre o futuro do país.
“O Governo sai desta votação de consciência tranquila e cabeça erguida. Nunca voltaremos as costas às nossas responsabilidades e aos nossos deveres para com os portugueses”, disse em declarações aos jornalistas, depois do chumbo histórico do Orçamento do Estado.
O primeiro-ministro garante os portugueses “podem contar com o Governo” para assegurar a governação do país “mesmo nas condições mais adversas”, ou seja, sem um Orçamento aprovado.
“A partir de agora, naturalmente, tendo a Assembleia da República tomado esta decisão, que não permite avançar nas negociações do Orçamento, cabe exclusivamente a o Presidente da República avaliar esta situação e tomar as decisões que entenda dever tomar”, acrescenta.
PS LAMENTA CHUMBO: "MUITOS PORTUGUESES ESTÃO HOJE TRISTES"
A líder parlamentar do PS lamentou o chumbo do Orçamento do Estado e acredita que muitos portugueses estão tristes por não se completar esta legislatura.
"Há hoje muitos portugueses que estão tristes tal e qual como eu."
Ana Catarina Mendes entende que o que estava em cima da mesa "não eram questões orçamentais, eram questões laterais que podiam ter sido trabalhadas noutra sede."
"Os nossos parceiros à esquerda fizeram a sua escolha e agora vamos para o próximo momento."
RIO QUER ELEIÇÕES O MAIS "RÁPIDO POSSÍVEL" APÓS O NATAL
O presidente do PSD defendeu que as eleições legislativas devem realizar-se "o mais depressa possível" a partir do Natal, dizendo esperar que "não sejam empurradas para a segunda quinzena de janeiro".
Questionado se a segunda quinzena de janeiro já seria tarde para realizar as eleições, Rio diz não querer "causar polémicas com datas", uma vez que vai ser recebido pelo Presidente da República no sábado.
"Não pode ser já amanhã e considerando que, pelo caminho temos o Natal, não pode ser em dezembro, a partir daí deve ser o mais rapidamente possível, porque não?", pergunta.
CDS DIZ QUE "ALTERNATIVA SÓ PODE VIR DA DIREITA E DO CENTRO DIREITA"
O CDS diz que o fim da geringonça era inevitável e que o chumbo do OE 2022 era previsível. Telmo Correia, líder parlamentar do partido, diz que, depois das eleições, a esquerda não vai conseguir entender-se.
“Eu acho que António Costa já não tem solução, a solução ou vem do centro direita ou o país ficará uma situação em que a geringonça nos condenou de absoluta ingovernabilidade”, disse aos jornalistas.
PEV DIZ QUE É PRECISO ANALISAR TODAS AS SOLUÇÕES
O PEV defendeu que, a par da marcação de eleições antecipadas, também sejam consideradas as opções de governação por duodécimos ou apresentação de outro Orçamento.
"As alternativas podiam ser o Governo continuar em funções e governar por duodécimos, pode ser o Governo apresentar outro Orçamento. Não é causa efeito entre o 'chumbo' de um Orçamento e haver dissolução da Assembleia da República", concretizou.
Interpelado sobre se o PEV pretende um novo Orçamento do Estado, o deputado respondeu que o partido "quer é que o problema seja resolvido".
PAN DIZ QUE MARCELO "SE PRECIPITOU" AO ANUNCIAR A DISSOLUÇÃO DO PARLAMENTO
O PAN considera que Marcelo Rebelo de Sousa se precipitou ao falar em eleições antecipadas. Ainda assim, garante que, em caso de eleições, o partido irá a votos sem receios.
“Achamos que o Presidente da República se precipitou ao convocar desde já a ideia de que irá dissolver a AR. Se formos para eleições, o PAN apresentar-se-á, evidentemente, ao escrutínio mais uma vez do povo português. Vamos sem qualquer receio para eleições”, afirma Inês de Sousa Real, líder do PAN.
O próximo passo, segundo a deputada, é “ouvir o Presidente da República” e perceber “quais as soluções que estão em cima da mesa”.
“Achamos que há outras opções que podem e devem ser esgotadas. Nomeadamente possibilidade de trazer um novo orçamento à Assembleia da República, preferimos isso do que uma gestão em duodécimos”, acrescenta.
CHEGA DEFENDE ELEIÇÕES EM JANEIRO MESMO QUE "PREJUDIQUE" CALENDÁRIOS DA DIREITA
O deputado único do Chega, André Ventura, defendeu a marcação de eleições antecipadas para janeiro de 2022, "mesmo que isso prejudique os interesses partidários" da direita, que tem congressos para decidir as lideranças nos próximos meses.
O presidente do Chega indicou "16 de janeiro" como uma data possível para as eleições legislativas.
Ventura também criticou o primeiro-ministro, António Costa, por preferir "ficar a governar de qualquer maneira" e por "encostar o Presidente da República à parede".