A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ainda não chegou a acordo sobre as quotas de produção e o prolongamento do pacto de corte da oferta. Os Emirados Árabes Unidos só dão luz verde se houver alterações. Enquanto isso, os preços dos combustíveis continuam a subir.
É preciso recuar a 2012 para encontrar preços de combustíveis em Portugal mais elevados do que os que hoje são praticados, e a previsão dos analistas é que a tendência de subida continue nos próximos tempos. Ainda que, no caso português, a principal razão para que a gasolina e o gasóleo estejam mais caros seja o grande peso que os impostos têm no custo final dos combustíveis no país (quase 60% do preço), a subida das cotações do petróleo nos mercados internacionais (que aumentaram 50% este ano) também tem a sua quota-parte de culpa.
Um litígio no mundo árabe sobre as quotas de produção travou, esta semana, as negociações entre os maiores produtores do planeta, deixando os mercados no limbo e empurrando os preços para picos que não se registavam desde 2014 na manhã de 6 de julho, os contratos futuros de WTI (West Texas Intermediate) para entrega em agosto fixavam-se em 76,98 dólares (65,02 euros). Habitualmente aliados, os Emirados Árabes Unidos (EAU) e a Arábia Saudita entraram em desacordo: Riade, à cabeça da OPEP+ (aliança que junta a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e outros produtores relevantes, como a Rússia), não conseguiu convencer Abu Dhabi a assinar um acordo para lançar determinada quantidade de crude para o mercado em agosto e prolongar a duração do atual pacto de corte da produção.
Emirados Árabes Unidos desunem aliança
A OPEP+ quer aumentar as exportações em mais dois milhões de barris diários entre agosto e dezembro, continuando a abrir as torneiras mas de forma gradual. E, ao mesmo tempo, também prevê o prolongamento do acordo de corte da oferta por mais oito meses (para que, até abril de 2022, não entrem no mercado os quase seis milhões de barris que os membros da OPEP+ mantêm no subsolo).
Mas os Emirados continuam a bater o pé, discordando de uma extensão do pacto nestes moldes, e só dão luz verde se houver uma revisão do volume-base de referência dos cortes (o nível de produção a partir do qual se calculam as reduções de cada país), de forma a poder bombear mais petróleo. Os EAU, que ficaram com 30% da sua capacidade parada como resultado do atual acordo de retirada de crude, têm planos ambiciosos para aumentar a produção depois de terem investido largos milhares de milhões de dólares no reforço da sua capacidade. Assim, querem uma produção de base de 3,8 milhões de barris por dia em vez dos 3,168 milhões definidos ora, se a redução que lhe couber for calculada a partir de um volume-base superior, não terão de cortar tanto na produção.
Como todos os acordos da OPEP+ requerem uma aprovação por unanimidade, as 23 nações que a compõem cancelaram, na segunda-feira, aquela que seria a terceira reunião para chegar a acordo sobre o rumo a dar à sua política de produção a partir de agosto. Acontece que a indefinição de um volume de mais entrada de crude no mercado petrolífero levanta temores sobre a estabilidade do grupo, numa altura em que a oferta não está a acompanhar o aumento da procura (explicada pelo levantamento das restrições associadas à pandemia) e em que os preços continuam a subir.