No início de novembro, António Costa criticou o acordo entre o PSD e o partido liderado por André Ventura nos Açores e garantiu que jamais iria tomar uma decisão idêntica à de Rui Rio.
“O PSD deu um passo que a direita democrática na Europa tem resistido a dar, que é fazer um acordo com um partido de extrema direita xenófoba”, afirmou António Costa em entrevista à "TVI" no dia 9 de novembro. Nessa ocasião o primeiro-ministro garantiu: “Nunca negociarei nada com o Chega”.
O primeiro-ministro manteve-se coerente a esta declaração?
Na passada quinta-feira, 26 de novembro, votou-se na Assembleia da República a proposta do Bloco de Esquerda (BE) que prevê o travão à transferência de 476 milhões de euros prevista no Orçamento do Fundo de Resolução para o Novo Banco.
Antes da votação final da proposta, e logo após André Ventura ter anunciado que ao contrário do que tinha feito no dia anterior não iria votar contra a proposta do BE, o Governo solicitou uma pausa de 15 minutos. Durante a suspensão dos trabalhos o vice-presidente da bancada parlamentar do PS, João Paulo Correia, promoveu uma conversa entre André Ventura e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendes Mendonça.
DURANTE A SUSPENSÃO DOS TRABALHOS O VICE-PRESIDENTE DA BANCADA PARLAMENTAR DO PS, JOÃO PAULO CORREIA PROMOVEU UMA CONVERSA ENTRE ANDRÉ VENTURA E O SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS, ANTÓNIO MENDES MENDONÇA.
O próprio André Ventura acabou por confirmar as negociações na sua conta oficial no Twitter. Num tweet ilustrado com uma notícia da TSF sobre as negociações entre PS e o Chega, Ventura escreveu, ironicamente: "Já agora, não foi o PS que disse que falar com o CHEGA era cruzar uma linha vermelha?”
Em suma, conclui-se que o PS entrou de facto em conversações com André Ventura sobre o seu voto na proposta do Bloco de Esquerda que eliminou do Orçamento do Estado a autorização da transferência do Fundo de Resolução para o Novo Banco.