Os bancos continuam a fechar agências por todo o país. Há 25 concelhos com apenas dois balcões abertos e dois que têm apenas um. Para os clientes de um banco, aceder a uma agência pode implicar percorrer dezenas de quilómetros. No caso do BCP, o segundo maior banco, não tem nenhuma agência em mais de 100 concelhos.
Cortar custos e apostar nos serviços digitais tem sido a estratégia seguida pelos bancos nos últimos anos. Estas tendências têm tido uma consequência bem real para milhares de portugueses, que passaram a ter de percorrer quilómetros para encontrar uma agência bancária aberta. Desde o pico de 2011, quando o país registou o máximo em número de agências, duplicou o número de concelhos com apenas dois balcões: passaram de nove para 25. O mesmo aconteceu com os concelhos com três agências a funcionar. Aumentaram de 29 para 41, entre 2011 e o final de 2019, segundo os últimos dados por concelho disponibilizados pela Associação Portuguesa de Bancos (APB). Há ainda dois concelhos com apenas uma agência bancária a operar.
Se, no caso da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o banco apenas falha a cobertura de um concelho, no Millennium bcp são já 102 os concelhos que não têm qualquer agência deste que é o maior banco privado no país.
"Tem havido em Portugal uma redução das redes dos bancos mais rápida do que no resto da Europa", disse Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB). "Há uma aposta na digitalização mas pensamos que tem havido um vanguardismo excessivo em Portugal. O nível de literacia financeira e inclusão digital ainda são baixas em Portugal", destacou o sindicalista.
Segundo dados da APB, entre 2011 e o final de 2020 desapareceram perto de 2500 balcões bancários. Corresponde ao fecho de 40% de agências no país. Também o número de trabalhadores foi reduzido. Ao todo, no mesmo período, foram eliminados 16 000 postos de trabalho nos bancos em Portugal, o que representa uma diminuição de quase 30% do número de trabalhadores no setor.
Só em 2020, desapareceram 5% dos balcões bancários existentes no país. Os bancos fecharam no total 202 agências em Portugal. O setor perdeu quase 1200 trabalhadores, acelerando a tendência de emagrecimento que a banca tem levado a cabo anualmente. O número de trabalhadores do setor foi reduzido em 2,9% para 40 475 no ano passado. São menos 1198 trabalhadores do que o número registado no final de 2019.
Estes dados representam um acelerar da redução da estrutura do setor. Entre 2018 e 2019, os bancos fecharam 2,4% dos balcões e perderam 1,9% dos seus trabalhadores.
Os concelhos mais afetados e que apresentavam, no final de 2019, menor número de agências, são os que estão situados nas regiões do interior do país. Dois concelhos têm apenas um balcão: Vila Nova da Barquinha e Vila Velha de Rodão. No total, no final de 2019, eram 68 os concelhos do país com três ou menos agências.
Entre os maiores bancos, a CGD terminou o ano passado com 543 agências a operar, menos 134 do que as que tinha abertas em 2019. O BCP fechou 27 balcões em 2020 e terminou o ano com 478 agências. O Santander tinha no final de 2020 um total de 443 balcões em Portugal, enquanto o Banco BPI tinha 422 e o Novo Banco 358.
O acelerar do encerramento de agências e saída de trabalhadores coincidiu com o ano em que Portugal mergulhou numa das maiores crises económicas de sempre, devido à estratégia seguida pelo Governo na gestão da pandemia do novo coronavírus. As medidas fortemente restritivas impostas no país incluíram confinamento da população e o fecho de estabelecimentos comerciais e negócios. O desemprego disparou tal como a insolvência de empresas.
Tendência é para manter
Para fazer face à crise, foram adotadas moratórias no crédito que suspenderam o pagamento de prestações de empréstimos dos clientes aos bancos. O objetivo foi o de conferir maior flexibilidade financeira às famílias e empresas e também evitar que disparasse o nível de crédito malparado na banca. Os bancos tiveram de constituir provisões para fazer face a eventuais perdas futuras relacionadas com possíveis incumprimentos, o que pressionou os seus lucros.
No total, os lucros do setor afundaram 77%, ou 1428 milhões de euros, caindo de 1863 milhões de euros, em 2019, para 435, em 2020, refere a APB. A margem financeira da banca caiu 4,2% e o produto bancário recuou 3,1%, enquanto as comissões líquidas diminuíram 4,5%.
Segundo Paulo Marcos, a tendência de fecho de balcões deverá manter-se. Mas o número de trabalhadores no setor não deverá ser tão afetado, já que espera que os bancos reforcem o número de funcionários em áreas como controlo, gestão de risco e compliance" "Também há bancos a apostar em forças de vendas externas, como promotores e agentes desvinculados", salientou. "Há maior digitalização mas também um regresso ao modelo original da banca", disse.