Associações de transporte pesado de passageiros exigem medida de discriminação positiva para o setor e acusam Executivo de contradizer-se com a devolução do IVA.
O anúncio do governo da devolução de parte da receita do IVA (a que resulta da subida dos preços) através de diminuição de dois cêntimos na gasolina e um cêntimo no gasóleo, a partir deste sábado, não agradou às empresas de transporte pesado de passageiros, que já alertaram que a viabilidade das operações, nomeadamente de transportes escolares, está em risco.
"Estão a gozar com os portugueses", comentou Rui Pinto Lopes, presidente da Associação Rodoviária de Transportadores Pesados de Passageiros (ARP). "Entre a semana passada e esta semana, o gasóleo terá subido 3,5 cêntimos e o governo oferece 1 cêntimo? Só pode ser a gozar com os portugueses e os empresários, estamos no limite", alertou.
Luís Cabaço Martins, presidente da Associação Nacional de Transportes de Passageiros (Antrop), considera que "um cêntimo não é medida que se apresente para o setor" e ainda "consegue ser uma contradição face ao discurso da necessidade de descarbonização que tem apresentado para manter a carga fiscal elevada nos combustíveis".
"Em Portugal, 80% do consumo de gasóleo é feito por particulares e só 4% respeita a autocarros de passageiros", explicou Cabaço Martins. "Não faz sentido que desça o ISP para a maioria do consumo e não tenha medidas de discriminação positiva para o transporte público, se o objetivo é que as pessoas deixem o carro em casa e andem de transporte público", acrescentou.
Ambas as associações exigem que o governo apresente medidas fiscais para o setor, nomeadamente o acesso ao gasóleo profissional, que devolve 18 cêntimos por litro aos pesados de mercadorias, mas não contempla o transporte de passageiros. "É o único país da Europa onde só os de mercadorias têm alívio fiscal, não faz sentido também", resumiu o presidente da Antrop.
"Um autocarro tem um depósito de 500 litros, os contratos foram feitos com o gasóleo a 1,40€ e hoje está quase 1,70€, o que significa mais 150€ para abastecer ou 9€ por km. É insustentável e se o governo não intervier, a partir de janeiro não vai haver transporte escolar", assegurou o presidente da ARP.
No final do mês, a 29 e 30, a Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Mercadorias (Antram) reúne-se em congresso e ali "podem ser tomadas decisões em conjunto com as outras associações", adiantou Pinto Lopes, aludindo a iniciativas de protesto que poderão juntar-se às organizadas pela população nas redes sociais.
Sem comentários:
Enviar um comentário