Morreu o coronel Otelo Saraiva de Carvalho, figura-chave e estratega militar da Revolução dos Cravos.
Otelo Saraiva de Carvalho morreu este domingo, aos 84 anos, no Hospital Militar de Lisboa, onde estava internado, confirmou Vasco Lourenço, seu camarada no Conselho da Revolução e presidente da Associação 25 de Abril.
Nascido a 31 de agosto de 1936 em Maputo (então Lourenço Marques), Otelo Saraiva de Carvalho foi um dos principais rostos do Movimento das Forças Armadas (MFA) e o responsável pela elaboração do plano do golpe militar que levou ao cerco do Largo do Carmo, em Lisboa, e pôs fim à ditadura do Estado Novo, a 25 de Abril de 1974, dirigindo as operações a partir do posto de comando instalado no Quartel da Pontinha.
Capitão em Angola entre 1961 a 1963 e na Guiné entre 1970 e 1973, graduado no posto de brigadeiro, Otelo chegou a comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON) em 1975, tendo sido afastado do cargo na sequência do 25 de Novembro.
Dez anos depois da revolução, o coronel de artilharia foi preso sob a acusação de ter liderado a organização terrorista de extrema-esquerda FP-25 (Forças Populares 25 de Abril), que operou em Portugal entre 1980 e 1987. E em 1986, candidatou-se nas primeiras eleições presidenciais livres depois da queda da ditadura, que perdeu para Ramalho Eanes.
Sonhos de Abril por cumprir
Fã confesso do cubano Fidel Castro chegou a dizer que "se tivesse mais cultura política, seria o Fidel Castro da Europa "o estratega militar da Revolução dos Cravos era um "otimista por natureza" para quem se tornava "muito difícil encarar o futuro com otimismo". "O nosso país não tem recursos naturais e a única riqueza que tem é o seu povo", disse em 2011 numa entrevista à agência Lusa.
Na ocasião, mostrou-se desiludido com "enormes diferenças de caráter salarial" que persistem no país e com o incumprimento de questões essenciais do programa político do Movimento das Forças Armadas. "Não posso aceitar essas diferenças. A mim, chocam-me. Então e os outros? Os que se levantam às 5 horas para ir trabalhar na fábrica e na lavoura e chegam ao fim do mês com uma miséria de ordenado?", questionou Otelo, exaltando um povo vergado por 48 anos de ditadura militar e fascista, que "merecia mais do que dois milhões a viverem em estado de pobreza".
Sem ver "alcançados os objetivos" que Abril sonhou, Otelo lamentou retrocessos de conquistas "importantes no campo da educação e da saúde" e chegou a dizer que "não teria feito o 25 de Abril" se pensasse que o país ia "cair" na situação atual: "Teria pedido a demissão de oficial do Exército e, se calhar, como muitos jovens têm feito atualmente, tinha ido para o estrangeiro."
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