Pela primeira vez na história, três sondas estão a analisar o planeta vermelho de uma forma nunca conseguida. Com métodos de abordagem diferentes, o objetivo é comum: saber se já houve vida em Marte e se é possível viver no planeta.
Após sete meses de voo e centenas de milhões de quilómetros, os rovers, lançados pelos EUA, pela China e pelos Emirados Árabes Unidos, aproveitaram uma janela de lançamento que ocorre apenas de 26 em 26 meses. Neste período, abre-se uma espécie de autoestrada entre a Terra e Marte, permitindo uma viagem mais curta e mais rápida, com menos combustível e mais barata.
Na frente dos três exploradores robóticos, está o rover dos Emirados Árabes Unidos (Al-Amal ou Esperança) que, na passada terça-feira, fez a descida para a órbita de Marte. O Tianwen-1, da China (nome que se traduz como a "Busca pela Verdade Celestial") já lhe fez companhia. Falta, ainda, o Perseverance, ("Perseverança") lançado pelos EUA que está a chegar. Eventos extraordinários que são "um hino à capacidade de organização das agências espaciais", disse, ao JN, Miguel Gonçalves, comunicador de ciência.
O "engarrafamento" de sondas espaciais, apesar do destino comum, tem objetivos e áreas de pesquisa distintas. A Al-Amal procurará uma órbita alta entre os 22 mil e os 44 mil quilómetros para melhor monitorizar o clima marciano. A missão chinesa está mais próxima do planeta e, em maio, o rover acoplado deverá separar-se da sonda e descer à superfície. O Perseverance vai pousar solo marciano, tal como aconteceu em 2012 com o Curiosit. De todas as agencias espaciais, a americana é aquela que tem mais experiência, mas tanto a China como os Emirados fazem apostas muitos fortes nestes projetos.
Em todos os países, a viagem para Marte está a ser seguida com orgulho e emoção. "Ao povo dos Emirados, às nações árabes e muçulmanas, anunciamos a chegada à órbita de Marte. Louvado seja Deus", comunicou Omran Sharaf, o chefe de projeto da missão, que permitiu ao país ser a quinta nação (depois da União Soviética, Estados Unidos, Índia e a Europa) a chegar até ao planeta vermelho.
HELICÓPTERO E ROVER
A primeira missão independente da China a Marte, a partir do Centro de Lançamento Espacial Wenchang, na província de Hainan. Também foi bem sucedida. Tal como a missão dos Emirados, a sonda Tianwen-1 fará o levantamento da atmosfera marciana. Em maio, será o momento em que irá pousar um rover na parte sul do planeta vermelho (na planície Utopia, onde também assentou a Viking 2, da NASA, em 1976, que operou na superfície de Marte até abril de 1980, quando ficou sem baterias). China quer que o Tianwen-1 seja um primeiro passo para futuras missões que regressem à Terra com amostras de rocha e solo marciano.
A última, mas não menos importante, será a missão americana que envolve o helicóptero Ingenuity e o rover Perseverance, que deverá pousar no Jezero Crater, a cratera que, outrora, esteve inundada por água. "Uma grande grua celeste fará baixar o rover até este ficar sobre as suas seis rodas", informou a agência espacial, que já fez aterrar uma série de rovers em Marte. Segundo os planos anunciados, descerá através da atmosfera marciana a uma velocidade de cerca de 20 mil quilómetros por hora. De fora da aventura, ficou a Agência Espacial Europeia que adiou a empreitada para 2022. Em causa estarão "problemas técnicos" com os paraquedas, a que se juntam os constrangimentos causados pela pandemia.
Pormenores
Al-Amal - Os Emirados Árabes Unidos estão focados numa componente científica e tecnológica que pretende, sobretudo, conhecer as moléculas e o clima. A "Esperança" não vai pousar em Marte.
Tianwen-1 - A missão chinesa quer saber se existe magma em Marte e se o planeta "está vivo por dentro". Em 2028, a China pretende recolher amostras no planeta vermelho e trazê-las para a Terra.
Perseverance - Os Estados Unidos da América querem escrever novos capítulos na história de Marte. A missão está focada na biologia e no carbono. Através da análise de rochas, os cientistas acreditam que será possível saber se é possível haver vida no planeta.
O som do deserto - A NASA colocou microfones na Perseverança para, pela primeira vez, gravarem o som que se escuta em Marte. Em 1996, o astrónomo Carl Sagan propôs à agencia americana a captação de ruído do planeta vermelho.
Sete minutos de terror - São conhecidos como "sete minutos de terror" o tempo que demora uma sonda a entrar na atmosfera de Marte e a pousar na superfície. Minutos em que tudo pode falhar e em que as comunicações com a Terra nem sempre funcionam.
Aniversário - A viagem a Marte é uma das formas de os Emirados Árabes Unidos celebraram os 50 anos da fundação do país.
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