A construção civil continua a viver uma crise de mão de obra. O setor precisa de, pelo menos, 80 mil trabalhadores qualificados, alerta Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção de Portugal. Carpinteiros, eletricistas, encarregados e ferrageiros são alguns dos exemplos de especializações em falta no país.
"Se todas as obras que estão previstas, como o metro do Porto, os hospitais, o aeroporto do Montijo arrancassem, não teríamos trabalhadores para responder", diz o dirigente sindical.
Do lado dos patrões, a convicção é a mesma. "No início da pandemia [março de 2020], apontava-se para a necessidade de 70 mil trabalhadores para dar resposta aos investimentos que estavam previstos", lembra Reis Campos, presidente da AICCOPN-Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas. Recentemente, num inquérito à situação do setor, 65% dos empresários fez notar que "a escassez de mão de obra especializada foi o principal constrangimento à atividade". O líder associativo lembra que o Plano de Recuperação e Resiliência, que espera seja "uma realidade ainda este ano", aponta para "um total de 12,9 mil milhões de euros em subvenções, sendo que se estima que cerca de 34% corresponderão a investimentos em construção".
Contrato em revisão
"Há uma efetiva necessidade de reforço ao nível da mão de obra qualificada", frisa Reis Campos e, nesse contexto, "a formação profissional é uma questão decisiva", criticando os centros de formação do setor, porque "não cumpriram a missão".
Albano Ribeiro defende que a escassez de mão de obra poderia ser resolvida, se os salários fossem mais ajustados à realidade da União Europeia, estimando que estejam 300 mil portugueses a trabalhar lá fora onde auferem salários de 2400€ e superiores. A situação "revertia-se se ganhassem um mínimo de 900€" em Portugal, diz. Aliás, este é o valor na mesa negocial com os patrões para os operários qualificados de primeira. Já, para os de segunda, é reivindicada uma remuneração de 850€.
A AICCOPN confirma que já foi iniciada a revisão do Contrato Coletivo de Trabalho com os sindicatos e lembra que o último inquérito do Ministério do Trabalho, de julho de 2020, indica que a taxa de salário mensal dos trabalhadores atingiu a média de 1010€, mais 3,7% face ao período homólogo. No entanto, Albano Ribeiro estima que 40% dos trabalhadores do setor ganhem o salário mínimo.
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