Algumas das principais estações de televisão dos Estados Unidos, como ABC, CBS e NBC, cortaram o discurso do Presidente no horário nobre, enquanto a Fox News, referência informativa do Partido Republicano, desmentiu as alegações de Donald Trump.
Nos estúdios, em Nova Iorque, os apresentadores repetiam continuamente. "Não vimos nenhuma prova".
Horas depois, em programas de opinião noturnos, a apresentadora da Fox News, Laura Ingraham, deu uma volta de 180 graus e questionou num editorial o facto do voto pelo correio ser contado, afirmando que "a América deve encontrar o vencedor na noite das eleições ou na manhã seguinte".
A mesma estação, o canal pago de notícias mais assistido, foi palco de grande tensão na noite da eleição de terça-feira, depois de declarar o rival de Trump, o democrata Joe Biden, vencedor do Arizona, antes que outros 'media' o fizessem.
A diferença de critérios na programação da Fox News reflete a tensão editorial que existe entre os jornalistas de uma empresa que vive um dilema: decidir entre continuar a apoiar a deriva do discurso de Trump ou a verificação das suas denúncias contra o sistema eleitoral.
Enquanto isso, as três principais estações de sinal aberto - NBC, ABC e CBS - cortaram e desmentiram veementemente o discurso de Trump em pleno direto.
"Temos de interromper Trump porque o Presidente fez uma série de afirmações falsas", disse o jornalista Lester Holt, apresentador do NBC Nightly News, um dos três programas de notícias mais seguidos na televisão em sinal aberto.
O mesmo foi feito por David Muir, apresentador do noticiário mais seguido no país, com oito milhões de telespetadores diários, o ABC World News Tonight.
"Simplesmente não houve prova, em nenhum desses estados, de que haja votos ilegais", disse.
Em seguida, o jornalista explicou que, devido à pandemia do coronavírus, a votação por correspondência aumentou, quebrando recordes: mais de 100 milhões de norte-americanos votaram antes, o que prolongou o escrutínio.
A CBS, a terceira em audiências, iniciou um apuramento de factos quando Trump terminou o discurso e desmentiu todas as acusações de "fraude" e "corrupção do sistema".
Mais contundentes foram os serviços de informação da rádio pública norte-americana, NPR: "Trump, mais uma vez, reivindicou falsamente a vitória nas eleições de 2020. Ele não ganhou. Os votos ainda estão a ser contados", afirmou.
Por sua vez, os canais pagos de notícias CNN e MSNBC, conhecidos por posições mais liberais, comentaram duramente: "Que noite triste para os Estados Unidos".
Trump "está a tentar atacar a democracia com uma série de falsidades. Mentira após mentira após mentira", lamentou o apresentador Jake Tapper.
No programa da CNN, Rick Santorum, um comentador do partido de Trump e ex-senador, declarou-se "impressionado e dececionado" depois de ouvir o Presidente.
Praticamente nenhum grande meio de comunicação corroborou as acusações de fraude eleitoral feitas pela campanha de Trump.
"Trump disse sem provas que a eleição foi corrupta e fraudulenta", publicou Nicole Carroll, editora do USA Today, um dos jornais generalistas mais lidos nos Estados Unidos.
O Washington Post, o New York Times e o Los Angeles Times também desmentiram o Presidente.
Da mesma forma, a Justiça da Geórgia e do Michigan negou provimento aos primeiros processos movidos por Trump, que depende do apoio mediático da Fox News, que se vai diluindo, e de plataformas "alternativas" que surgiram nas redes sociais.
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